'Pautas-bomba' aprovadas ou prontas para votação no Congresso podem gerar impacto superior a R$ 72 bilhões
Estimativas de órgãos do governo e do Legislativo dizem respeito a 13 propostas aprovadas ou ainda em discussão que podem aumentar dificuldade para governo cumprir meta fiscal das contas públicas.
Congresso
aprova série de medidas que podem aumentar gastos do governo em 2019
Propostas aprovadas por deputados e senadores nos últimos três meses e
outras ainda em discussão no Congresso Nacional poderão representar um impacto
estimado de pelo menos cerca de R$ 72 bilhões anuais nas contas públicas,
segundo estimativas de diferentes órgãos do governo e de técnicos do
Legislativo (veja mais abaixo a lista das propostas).
Apelidadas de "pautas-bomba", essas propostas aumentam os
gastos do governo ou dão benefícios para setores específicos que provocam queda
na arrecadação.
As matérias podem trazer dificuldade para o governo cumprir a meta
divulgada para as contas públicas neste ano.
A meta permite déficit (despesa maior que a receita) de até R$ 159
bilhões. Esse valor não inclui os gastos com pagamento de juros da dívida pública.
Na final da noite desta quarta-feira (11), o Congresso Nacional aprovou
a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), base para o governo elaborar a
proposta de Orçamento da União para 2019. Nesta quinta, o Ministério do
Planejamento informou que o texto será alvo de "rigorosa avaliação"
quando chegar para análise do governo.
Com a aprovação da LDO, deputados e senadores poderão iniciar no próximo
dia 18 (e até dia 31) o período de recesso legislativo, conforme determina a
Constituição.
Um dos vice-líderes do governo na Câmara, o deputado Beto Mansur
(MDB-SP) disse na quinta-feira (12) que a base aliada trabalha para
"enxugar ao máximo" as despesas.
Porém, com a aprovação dessas propostas, caberá ao presidente Michel Temer avaliar o que deve ser vetado para diminuir o impacto nas contas públicas.
"Muitas vezes se trabalha no sentido de enxugar ao máximo as despesas. E estamos em um momento eleitoral, e muita gente, não só do governo, rezou muito para que a gente entrasse logo no recesso para que não tivesse mais despesa para o ano que vem. Mas não foi o que ocorreu", afirmou Mansur.
As 'pautas-bomba'
Confira abaixo alguns dos projetos aprovados ou em discussão no Congresso que podem provocar efeito fiscal negativo para as contas públicas (os valores são a estimativa de gasto anual).
- Anistia a multas da greve dos caminhoneiros (R$ 700 milhões) - Texto aprovado na Câmara e depois no Senado concede anistia às multas de trânsito e ou motivadas por decisões judiciais aplicadas entre os dias 21 de maio e 4 de junho em razão da greve de caminhoneiros. O texto vai agora à sanção do presidente Michel Temer. A Advocacia Geral da União (AGU) informou que vai recomendar ao presidente que vete a anistia de multas judiciais. Segundo a Consultoria de Orçamento e Fiscalização Financeira (Conof) da Câmara, a anistia custará pelo menos R$ 700 milhões aos cofres públicos.
- Isenção
de conta de luz para famílias de baixa renda (R$ 742 milhões) - No projeto
que viabiliza a privatização de seis distribuidoras de energia controladas
pela Eletrobras, os deputados incluíram uma emenda que concede isenção do
pagamento da conta de luz para famílias de baixa renda. O texto ainda será
apreciado pelo Senado. Segundo o Ministério de Minas e Energia, 8,9
millhões de famílias devem ser beneficiadas. Segundo estimativa da Agência
Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o impacto será de R$ 742 milhões por
ano.
- Reinclusão
de empresas no Simples (impacto não informado) - Projeto aprovado na
Câmara e no Senado permite o retorno ao Simples Nacional, que é um regime
simplificado de tributação, de micro e pequenas empresas excluídas do
programa em janeiro deste ano por causa de dívidas tributárias. Segundo a
Receita, 470 mil empresas foram excluídas em janeiro, mas, dessas, 194 mil
parcelaram seus débitos naquele mês e conseguiram retornar ao programa.
Restaram 276 mil empresas que serão contempladas pelo projeto aprovado no
Congresso. A Receita ainda não informou o impacto fiscal.
- Volta
do benefício fiscal para fabricantes de refrigerantes (R$ 2 bilhões) - O
Senado aprovou projeto que restabelece benefício fiscal concedido a
indústrias do setor de refrigerantes instaladas na Zona Franca de Manaus.
O texto susta decreto presidencial e ainda precisa passar pela Câmara.
Segundo a Receita Federal, o impacto em 2018 será de R$ 740,39 milhões. Em
2019, subirá para R$ 1,975 bilhão, chegando a R$ 2,161 bilhões em 2020.
- Rejeição
dos vetos do PL do Funrural (R$ 13 bilhões em 2018) - O Congresso Nacional
derrubou os vetos do presidente Temer ao projeto que prevê o parcelamento
das dívidas previdenciárias de produtores rurais com o Fundo de Assistência
ao Trabalhador Rural (Funrural). Segundo estimativas do governo federal, o
impacto será de R$ 13 bilhões em 2018.
- Rejeição
do veto do Simples Nacional (R$ 7,8 bilhões em 10 anos) - Congresso
derrubou o veto presidencial ao projeto que criou um programa para micro e
pequenas empresas parcelarem as dívidas com o Simples Nacional, o chamado
Refis do Simples. O texto prevê que os débitos poderão ser pagos em até
180 parcelas. O impacto estimado pelo governo federal no período de dez
anos será de R$ 7,8 bilhões.
- Transferência
de servidores dos ex-territórios para União (R$ 2 bilhões) - Medida
provisória aprovada no Congresso autorizou transferência de servidores dos
ex-territórios de Roraima, Amapá e também de Rondônia para os quadros da
União. Nos últimos anos, o Congresso já tinha aprovado emendas à
Constituição possibilitando a migração. Segundo estimativas do governo
federal, o impacto anual será de R$ 2 bilhões.
- Alterações
na Lei Kandir (R$ 39 bilhões) - Proposta pronta para ser votada no
plenário da Câmara obriga a União a compensar estados e Distrito Federal
por perdas com a desoneração do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e
Serviços (ICMS), chamada de Lei Kandir. Estimativa do governo federal é e
que União terá de abrir mão de R$ 39 bilhões por ano.
- Criação
de Municípios (não calculado) - Projeto de lei pronto para a pauta do
plenário da Câmara estabelece novos critérios para criação, emancipação e
fusão de municípios. Não há estimativa de cálculo, mas críticos dizem que
parte das novas prefeituras não terá autonomia financeira e dependerá de
repasses da União.
- Venda
direta de etanol (R$ 2,4 bilhões) - Senado aprovou projeto que permite a
venda de etanol pelo produtor diretamente para os postos de combustíveis.
O texto depende de aprovação na Câmara. A perda de arrecadação é estimada
em R$ 2,4 bilhões ao ano.
- Marco
regulatório do transporte de cargas (R$ 8,6 bilhões) - O marco regulatório
do transporte de cargas, aprovado pela Câmara dos Deputados, tem potencial
de reduzir a arrecadação do governo federal em R$ 8,6 bilhões somente em
2018, segundo dados do Ministério da Fazenda. O texto, que ainda precisa
passar pelo Senado, estabelece normas sobre frete, pedágio, contrato para
transporte de cargas, entre outros. O PL prevê também cinco benefícios fiscais
às transportadoras de cargas. Para 2019, os cálculos apontam para uma
renúncia de R$ 9 bilhões e, para 2020, de R$ 9,26 bilhões.
- Previsão
de reajuste para servidores na LDO 2019 (R$ 4,4 bilhões) - A Lei de
Diretrizes Orçamentárias de 2019, aprovada pelo Congresso, derrubou a
proibição a reajuste para servidores. Segundo o Ministério do
Planejamento, 253 mil servidores civis ativos e inativos têm previsão de
reajustes escalonados até 2019, o que representam aumento de R$ 4,4
bilhões no ano nas despesas com servidores.
- Aumento para agentes de saúde (não informado) - A Câmara e o Senado aprovaram medida provisória que aumenta o piso salarial de agentes comunitários de saúde e de agentes de combate a endemias. Não há estimativa de impacto fiscal.G1
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