Em delação complementar ao depoimento do ano passado, ele voltou a falar sobre R$ 5 milhões que teria dado ao presidente do Senado. Na ocasião, Eunicio disse que relatos eram 'imaginários'.
O delator Ricardo Saud relatou novos detalhes sobre o suposto pagamento de propina de R$ 5 milhões pago pela Vigor, empresa do grupo J&F, e outras empresas do setor de laticínios ao presidente do Senado, senador Eunício Oliveira (MDB-CE), a partir de doações ao partido, em 2014.
O pagamento já havia sido relatado no ano passado, nos primeiros depoimentos da colaboração. Na ocasião, Eunício divulgou nota na qual afirmou que os relatos de Ricardo Saud são "imaginários" e "mentirosos" (leia a íntegra ao final desta reportagem). Nesta sexta, o G1 voltou a procurar a assessoria do senador, que preferiu não se manifestar.
Na delação premiada, entregue à Procuradoria-Geral da República, Saud incluiu novos detalhes sobre esse episódio, acrescentando como foram feitos os pagamentos, os valores, as empresas e detalhes sobre o acerto da propina.
O delator entregou 12 arquivos com novas informações. Em um deles, Saud trata do episódio envolvendo Eunício.
Relata que houve oferta de propina dentro do Senado para que Eunício atuasse pra vetar emendas em medidas provisórias que poderiam favorecer uma concorrente, a empresa LBR.
"Tais reuniões foram no gabinete da liderança do PMDB no Senado entre fevereiro e junho de 2014”. Participaram César Helon pela Piracanjuba, Claudio Teixeira pela Italac, Cícero Hegg pela Tirolez, René pela Nestlé, Estela pela Danone, além de mim pelo Grupo J&F”, diz o documento.
Saud detalhou a atuação do senador a pedido das empresas. Disse que no primeiro semestre de 2014, ele “monstrou grande eficácia em cumprir sua parte no trato”. E conseguiu evitar emendas em três medidas provisórias que tramitavam em comissões no senado, da qual ele era integrante.
Saud detalhou: “Em 25.03.2014, uma proposta de emenda à mp 627/2013, elaborada pelo ministério da fazenda em conjunto com a receita federal, não foi aprovada; em 22.04.2014, outra proposta de emenda, agora à mp 628/2013, não foi aprovada; e, em 07.05.2014, uma terceira proposta de emenda, desta vez à mp 634/2013 não passou”.
O delator disse que em relação à MP 656/14, Eunício era relator mas não conseguiu evitar a inclusão de alterações que contrariavam os interesses da Vigor e das empresas do ramo de laticínios.
Segundo ele, “o senador previu que os artigos correspondentes seriam vetados. De fato, os vetos vieram, segundo sua previsão”.
As alterações acabaram acontecendo em outra MP, a 668/15, mas Saud disse que Eunício não integrava a comissão dessa medida provisória “e, além disso, já tinha recebido a propina prometida”.
Ricardo Saud diz que os pagamentos foram feitos ao partido -- a pedido de Eunício: “para cumprir este acerto, a vigor fez quatro pagamentos ao PMDB, por determinação do senador Eunício Oliveira, que era, tesoureiro nacional do partido e explicou que teria facilidade para destinar os recursos para sua campanha ao governo do estado do Ceará.
Ele contou que os pagamentos da J&F foram feitos entre junho e setembro de 2014.
E que as empresas Italac e Piracanjuba procederam nos mesmos moldes e, praticamente, nas mesmas datas. As empresas Tirolez e Itambé complementaram o valor, segundo a delação complementar de Saud.
A TV Globo checou os valores relatados no documento. No Tribunal Superior Eleitoral , é possível verificar quatro pagamentos das empresas praticamente nos mesmos dias em que a J&F pagou ao partido:
A Vigor , da J&F, pagou R$ 1,4 milhão entre junho e setembro de 2014;
A Piracanjuba, R$ 1,1 milhão , nos mesmos meses.
A Italac, R$ 1,2 milhão , de junho a outubro de 2014;
A Tirolez, R$ 120 mil , em junho de 2014;
E a Itambé, R$ 500 mil reais, de junho a agosto de 2014.
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