Com baixa rejeição e distante da Lava Jato, o senador Álvaro Dias desponta como opção ao Palácio do Planalto e acirra a disputa pelos votos do espectro político de centro
O senador supera as expectativas e corre por fora na
sucessão presidencial
A oito meses das eleições, o senador Álvaro Dias (PODE-PR) embolou o
meio-campo da corrida presidencial. Ao emergir como um dos candidatos a
presidente da República com relevante potencial de crescimento, Dias tem
seduzido fatia do eleitorado que busca uma alternativa à polarização e ao
extremismo de direita e esquerda. As últimas pesquisas já registram a ascensão
do senador entre eleitores tradicionalmente identificados com o PSDB, ou seja,
um público de renda mais alta, maior escolaridade e concentrado nas regiões
mais desenvolvidas do País. Para quem até outro dia era tido como azarão, não é
pouco.
Ex-tucano e com 43 anos na vida pública, Álvaro Dias varia entre 3% e
6% das intenções de voto de acordo com os diferentes cenários avaliados pelo
Datafolha. Nos estados do Sul, porém, ele alcança expressivos 20%. Murilo
Hidalgo, diretor do Instituto Paraná Pesquisas, avalia inclusive que Álvaro
tira votos até mesmo do PSDB no Paraná e Santa Catarina, estados que,
historicamente, sempre foram redutos tucanos: “Nesses estados, a candidatura de
Alckmin não está crescendo como deveria por causa de Álvaro Dias”. Além disso,
o senador tem os menores índices de rejeição entre todos os pré-candidatos à
Presidência: 13%. É justamente na baixa rejeição que Dias aposta suas fichas
para conquistar os eleitores.
O fim do foro privilegiado
Ex-governador do Paraná entre 1987 e 1991, Álvaro Dias foi reeleito
para o quarto mandato consecutivo ao Senado em 2014, com expressivos 77% dos
votos válidos. Não à toa, é no Paraná que o parlamentar alcança os melhores
índices. Ali, tem a preferência de 33,5% dos eleitores, muito à frente do
segundo colocado no estado, o deputado federal Jair Bolsonaro, do PSC, que
aparece com 19,5%. Os dados constam de uma pesquisa divulgada em dezembro pelo
Instituto Paraná. “O Álvaro é o candidato que mais tem votos em seu estado de
origem. No Paraná, conta com a preferência de 1/3 do eleitorado. O Alckmin, por
exemplo, chega a 23% em São Paulo, e o Ciro Gomes não passa de 16% no Ceará”,
completou Hidalgo.
Pesa a favor de Álvaro Dias nunca ter tido seu nome envolvido em
escândalos de corrupção. É um dos poucos parlamentares que passaram ao largo da
Lava Jato. Além disso, é o autor da PEC 333/2017, que limita o foro
privilegiado. Essa é uma das grandes demandas da sociedade, cansada da lentidão
dos processos contra políticos no Supremo Tribunal Federal. O texto restringe o
foro, em caso de crime comum, apenas ao presidente e vice-presidente da República,
e aos do STF, Câmara e Senado. Outras autoridades – como juízes, deputados e
senadores – seriam julgados em primeira instância. Para o senador, a
prerrogativa de foro é um “privilégio odioso” para o caso de crime comum como
peculato, corrupção passiva ou homicídio. “O foro privilegiado é uma
excrescência, e estabelece uma contradição, uma incoerência, porque o artigo 5º
da Constituição afirma que todos somos iguais perante a lei. O foro impõe a
ideia de que algumas pessoas são superiores às demais. Como se houvesse uma
casta especial de privilegiados. Isto precisa acabar”, defende o senador.
Ele se recusa a receber aposentadoria como ex-governador do Paraná. Só
no ano passado o Estado economizou R$ 706 mil
Dias ainda abriu mão do auxílio-moradia concedido aos parlamentares.
Em um ano, a economia chega a R$ 66 mil, e durante todo mandato de oito anos,
são R$ 528 mil economizados para os cofres públicos. Como parlamentar, ele
também renunciou ao direito de receber a verba indenizatória de R$ 15 mil mensais,
o que só em 2017 representou uma economia de R$ 180 mil. Também recusou R$ 30,4
mil por mês, que é a aposentadoria de ex-governador a que ele teria direito há
20 anos. No ano passado, a renúncia passou de R$ 365 mil. Em 2017, o total de
recursos economizados por Álvaro Dias foi de R$ 706 mil.
O grande desafio de Álvaro Dias é fortalecer seu nome para além da
região Sul, onde já é bastante conhecido e conta com um público cativo. O
candidato a vice e as eventuais alianças do Podemos ainda não foram definidas.
Isso também será de fundamental importância para o futuro da candidatura, já
que se trata de um partido novo e pequeno. O tempo de propaganda no rádio e na
televisão será curto, mas Dias é conhecido por ser um dos políticos mais
atuantes nas redes sociais e assim deve permanecer até a votação de outubro.
Numa eleição tão embolada quanto imprevisível, o senador pode nem chegar ao
segundo turno, mas já fez o suficiente para incomodar os partidos tradicionais.
Por isso, é bom ficar de olho nele.
Fonte: IstoÉ
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