Jungmann: "O sistema penitenciário não está nas mãos do
Estado brasileiro e sim nas mãos das grandes quadrilhas"
"A
prisão é um local de segregação e de isolamento. Como é que se explica que
entra essa quantidade de armas num local como este? Como se explica essa
quantidade de celulares (507), de drogas (1.101), de televisores
(201)?. Essa responsabilidade é do sistema prisional, sem a menor sombra
de dúvidas." Esse questionamento foi feito por Raul Jungmann, ministro da
Defesa, em entrevista.
Para
Jungmann, o sistema prisional brasileiro é dominado pelas facções criminosas.
"O sistema penitenciário não está nas mãos do Estado brasileiro e sim nas
mãos das grandes quadrilhas. É o home office dos grandes
criminosos, que comandam de suas celas ações criminosas no país e no
exterior." "O Brasil talvez seja o único país no
mundo em que as grandes quadrilhas foram criadas dentro do sistema
penitenciário. O sistema é a maternidade, o berçário dessas grandes
quadrilhas, o que já um indicador extremamente negativo", afirma o
ministro.
Agentes das Forças Armadas encontraram, em 2017, quase 11 mil "armas
brancas e objetos perfurantes" durante inspeções realizadas em 31
presídios do país. As unidades prisionais vistoriadas abrigam 22,9 mil presos,
o que indica que um em cada dois detentos tem acesso a objetos como facões,
peixeiras, estiletes e chuchos (facões improvisados). As varreduras
encontraram ainda dois revólveres e 24 munições. As varreduras foram feitas por
11 mil membros das Forças Armadas, a pedido dos governos de sete Estados: Acre
(seis presídios vistoriados); Amazonas (também seis); Mato Grosso do Sul
(dois); Pará (dois); Rio Grande do Norte (cinco); Rondônia (nove) e Roraima
(um).
Jungmann
reafirmou que os dados indicam que há um acordo tácito entre funcionários
do sistema prisional e o crime organizado. Para reforçar seu ponto de vista,
ele citou reportagem que mostrou que policiais militares e agentes
penitenciários vendiam pistolas e facas para chefes da facção criminosa
FDN (Família do Norte),
responsável pela morte de 56 presos durante o chamado massacre de Manaus. O
ministro defende a medida tomada pelo Ministério da Justiça e da Segurança
Pública de restringir o direito de visita íntima nos presídios federais.
"Os
comandantes destas quadrilhas, apesar de estarem há décadas em presídios
federais como o de Mossoró (RN), Catanduvas (PR), permanecem no comando, pois o
fluxo de informações ainda não foi interrompido. E isso se dá nas visitas
íntimas, nas visitas de amigos e parentes e, infelizmente, nas visitas de
advogados", diz. "É preciso acabar com visitas íntimas em presídios e
monitorar as visitas de parentes e advogados, ressalvando o direito de defesa
dos condenados."
BP
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