Explosão de gastos da Previdência tira dinheiro de escolas, hospitais e obras



Fatia do Regime Geral de Previdência nas despesas primárias saltou de 41% para 48% em três anos. Saúde, educação, desenvolvimento social e PAC são áreas que mais perderam dinheiro



A combinação de crise econômica, envelhecimento da população e teto de gastos públicos faz com que os gastos da Previdência Social avancem rapidamente sobre o orçamento de outras áreas.
Aposentadorias, pensões e benefícios assistenciais pagos pelo Regime Geral de Previdência Social (RGPS) já consomem quase metade do orçamento federal. Custaram R$ 499 bilhões nos dez primeiros meses deste ano, o equivalente a 48,3% das despesas primárias (não relacionadas à dívida) da União. No mesmo período de 2014, apenas três anos atrás, essa fatia era de 40,8%, segundo dados extraídos de relatórios do Tesouro Nacional.
Esse avanço de 7,4 pontos porcentuais foi compensado por uma retração do mesmo tamanho nas demais despesas do governo. Uma vez que os benefícios previdenciários são obrigatórios e não podem ser reduzidos sem mudança na lei, o governo foi cortando despesas discricionárias, de livre escolha. Os chamados gastos sociais e as obras públicas foram as principais vítimas da tesourada.
Juntas, as despesas discricionárias dos Ministérios da Saúde, Educação e Desenvolvimento Social mais o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) representavam 21,1% dos gastos primários da União em 2014, também no período janeiro-outubro. Essa participação encolheu 6,7 pontos porcentuais desde então, para 14,4% do total neste ano.
Em valores atualizados pela inflação, a despesa do RGPS nos dez primeiros meses do ano cresceu R$ 69 bilhões entre 2014 e 2017. No mesmo intervalo, os gastos de Saúde, Educação, Desenvolvimento Social e PAC diminuíram R$ 73 bilhões, em termos reais.

Também na comparação entre os dez primeiros meses de 2014 e 2017, a soma de todas as despesas primárias da União baixou R$ 20 bilhões, quase 2%. Quer dizer: o bolo do orçamento encolheu, mas a fatia da Previdência está maior do que era antes. E continuará crescendo, segundo diferentes projeções.

Despesa dispara, arrecadação patina
Os gastos com saúde e educação podem até diminuir, mas, como obedecem a limites mínimos estabelecidos pela Constituição, são relativamente protegidos de cortes mais drásticos. O mesmo não ocorre com uma série de programas sociais, entre eles o Bolsa Família.
Levantamento publicado pela Gazeta do Povo no fim de outubro mostrou que, de 15 ações sociais que eram vitrine das gestões petistas, 13 tiveram o orçamento reduzido após a posse de Michel Temer. A explicação oficial é que, para dar conta da Previdência, ela própria um “gasto social”, o governo precisa conter os demais desembolsos.
O número de aposentados cresce mais de 3% ao ano, e a despesa está avançando além disso. Os gastos do RGPS acumulados até outubro aumentaram cerca de 7% em termos reais, já descontada a inflação, em relação ao mesmo período do ano passado.
A arrecadação do governo não acompanha esse ritmo. Em meio à leve recuperação da atividade econômica após quase três anos de recessão, a receita primária total encolheu 1,5% no acumulado de 2017, também em comparação aos dez primeiros meses de 2016.

Gazeta do Povo
 

 

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